DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Posted by dev
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O uso de substâncias psicoativas permeiam os vários cenários da comunidade, desde os conflitos familiares, os casos de violência, o sofrimento psíquico e a circulação comercial das substâncias. O efeito da droga no organismo de cada pessoa depende de muitos fatores, dentre os quais as questões de concentração e características da substância utilizada, da via de administração, de sua distribuição, metabolismo e eliminação no corpo. Há diferenças fundamentais no padrão de consumo, onde a experimentação, o uso, o abuso e a dependência irão determinar o diagnóstico e o tratamento, se necessário.

Existem diferenças conceituais ao definirmos o uso e abuso de drogas. O primeiro diz respeito a qualquer consumo de substância, seja experimental, esporádico ou episódico. Já o abuso, pode ser entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências prejudiciais para o usuário, podendo chegar à dependência. Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), o termo “uso nocivo” é o que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – V), “abuso” engloba também consequências sociais. A partir do reconhecimento da dependência química como um problema de múltiplos fatores e considerando a dinâmica familiar como um fator importante a ser analisado, percebe-se que os relatos das histórias de vida dos sujeitos dependentes de drogas, assim como de seus familiares, não apenas enriquece o processo de tratamento (compreendendo esse indivíduo em suas relações), como possibilita a busca de alternativas conjuntas para os problemas apresentados.

Na atualidade, diferentes tipos de substâncias psicoativas vêm sendo usados entre uma gama de finalidades que se estende desde o uso lúdico, com fins prazerosos no desencadeamento de estado de êxtase, como uso místico, curativo entre outros. A experimentação e o uso dessas substâncias crescem de forma consistente em todos os segmentos, gênero e idade. Em uma sociedade focada no consumo, na qual o importante é o “ter” e não o “ser”, e a inversão de crenças e valores que geram desigualdades sociais, favorece a competitividade e o individualismo, não há mais certezas religiosas, morais, econômicas ou políticas. Esse estado de insegurança e insatisfação gera um estresse constante que acaba por incentivar a busca de novos produtos e prazeres, nesse contexto, as drogas é um deles.

Pode-se dizer que as características individuais e os fatores emocionais, tais como a falta de preparo ao lidar com os problemas, baixa tolerância a frustrações, inseguranças sociais, dentre outros, funcionam muitas vezes como uma mola propulsora de incentivo ao uso de qualquer droga. Torna-se de grande valia perceber qual a função que a substância química está exercendo na vida daquele sujeito, buscando escutá-lo a fim de compreender a sua relação com a droga. Um dos fatores bastante vistos, que podem contribuir, na questão familiar, é a falta ou excesso, de proteção, cuidados, regras e limites. A permissividade parental e a ausência de regras claras podem influenciar direta e indiretamente no processo da dependência. A família é a primeira referência da pessoa, nesse ambiente, mediador entre o indivíduo e a sociedade, que aprendemos a perceber o mundo e a nos situarmos nele. Ela é a principal responsável por nossa formação pessoal e social. Atitudes como esta, podem confundir ainda mais os papéis familiares, fazendo com que o dependente químico perca a oportunidade de perceber algumas consequências de sua dependência, principalmente se a família não associar o uso das drogas como fator desencadeador de sua ausência. Como exemplo, a esposa que assume as responsabilidades sobre a casa em função do alcoolismo do marido, ou a filha mais velha cuidar dos irmãos e afazeres da casa em função da drogadição da mãe, dentre outras circunstâncias.

As famílias que fazem parte dessa realidade se mostram tão fragilizadas e perdidas, quanto o próprio dependente químico, sem saber exatamente sua causa, a quem recorrer e onde erraram. Razões pelas quais se faz presente a disponibilidade de atendimento também aos familiares. O objetivo não se limita à busca de responsabilizar os culpados, mas sim à compreensão do funcionamento familiar e a potencialização de mudança de todas as partes. Na prevenção, várias atitudes dos pais e familiares podem ajudar, tais como: amor, carinho, informações adequadas, diálogo aberto, apoiar o modo de eles serem, ajudá-los a ter objetivos e metas de vida, mesmo com a dependência instalada, desenvolvendo uma pessoa mais saudável emocionalmente. Lembre-se que o fato de um indivíduo usar ou até ser um dependente da droga não faz com que esteja condenado a nunca mais se recuperar. O tipo de tratamento a escolher depende da gravidade do uso e dos recursos disponíveis para o encaminhamento. Eles devem ser indicados conforme os critérios previamente estabelecidos e muitas vezes se constituem em abordagens complementares para um mesmo indivíduo, de modo que não devem ser vistos como excludentes, como grupos de autoajuda (Alcóolicos Anônimos/ Narcóticos Anônimos), auxílio médico (psiquiatra, especialistas), internamentos (hospitais e clínicas psiquiátricas), acolhimento em Comunidade Terapêutica, CAPS AD, tratamento ambulatorial (equipe multidisciplinar).

 

Lucas Kafka, psicólogo da CRAVI.

 

 

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